sexta-feira, 30 de setembro de 2011

El puente (2)

Desde a minha graduação, direcionei os meus trabalhos para o estudo psicossocial da identidade.

Em um deles, nós fazíamos grupos com adolescentes e ali discutíamos a construção da identidade e as consequências desse processo na vida deles (e de alguma maneira, acabamos refletindo sobre a nossa também).

Uma das conclusões desses trabalhos foi que, independentemente da época da vida em que nos encontramos, chegaremos - vez ou outra - em um ponto onde teremos que tomar decisões e, dessa maneira, perder e ganhar coisas ao longo do caminho.

Um símbolo desse trabalho foi, na época, a ponte*, representando a travessia que os adolescentes têm de fazer rumo à vida adulta.

Agora, a ponte aparece mais uma vez pra mim, talvez trazendo representações outras... que ainda estão por ser reveladas.

Seja qual for a forma que isso ocorra, a ponte tem, certamente, um alto valor simbólico...

Assim, deixo vocês com um poema muito bonito de Mário Benedetti, "El Puente":


El Puente

Para cruzarlo o para no cruzarlo
ahí está el puente

en la otra orilla alguien me espera
con un durazno y un país

traigo conmigo ofrendas desusadas
entre ellas un paraguas de ombligo de madera
un libro con los pánicos en blanco
y una guitarra que no sé abrazar

vengo con las mejillas del insomnio
los pañuelos del mar y de las paces
Ias tímidas pancartas del dolor
las liturgias del beso y de la sombra

nunca he traído tantas cosas
nunca he venido con tan poco

ahí esta el puente
para cruzarlo o para no cruzarlo
yolIo voy a cruzar
sin prevenciones

en la otra orilla alguien me espera
con un durazno y un país

---

A ponte

Para cruzá-la ou não cruzá-la
eis a ponte

na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um país

trago comigo oferendas desusadas
entre elas um guarda-chuva de umbigo de madeira
um livro com os pânicos em branco
e um violão que não sei abraçar

venho com as faces da insônia
os lenços do mar e das pazes
os tímidos cartazes da dor
as liturgias do beijo e da sombra

nunca trouxe tanta coisa
nunca vim com tão pouco

eis a ponte
para cruzá-la ou não cruzá-la
e eu vou cruzar
sem prevenções

na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um país

(De Preguntas al azar – 1984-1985)

---

*http://coisasdavidabynick.blogspot.com/2009/09/el-puente.html

So many books...

So may books, so little time.
(web image)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Beatriz (2)


Beatriz
[Composição: Chico Buarque
Interpretação: Ana Carolina]

Olha,
Será que ela é moça?
Será que ela é triste?
Será que é o contrário?
Será que é pintura o rosto da atriz?
Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida
Olha,
Será que é de louça?
Será que é de éter?
Será que é loucura?
Será que é cenário a casa da atriz?
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida
Sim, me leva para sempre Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Ah, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz

Olha,
Será que é uma estrela?
Será que é mentira? [mentira. . mentira. . mentira]
Será que é comédia?
Será que é divina a vida da atriz?
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis?
E se um arcanjo passar o chapéu?
E se eu pudesse entrar na sua vida. . .

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

(como dizia Renato Russo...)

"Acho que não sei quem sou.

Só sei do que não gosto."

Chão de giz (3)



Chão de giz
[Zé Ramalho]


-
Será que Freud explica?
-

Eu sou do sul



Eu sou do sul

[Composição: Elton Saldanha
Interpretação: Os Serranos]

Eu sou do sul, sou do sul
É só olhar pra ver que eu sou do sul, sou do sul
A minha terra tem um céu azul, céu azul
É só olhar e ver

Nascido entre a poesia e o arado
A gente lida com o gado e cuida da plantação
A minha gente que veio da guerra
Cuida dessa terra
Como quem cuida do coração

Eu sou do sul
É só olhar pra ver que eu sou do sul
A minha terra tem um céu azul
É só olhar e ver

Você, que não conhece meu estado
Está convidado a ser feliz neste lugar
A serra te dá o vinho
O litoral te dá carinho
E o guaíba te dá um pôr do sol lá na capital

Eu sou do sul
É só olhar pra ver que eu sou do sul
A minha terra tem um céu azul
É só olhar e ver

A fronteira los hermanos
É prenda cavalo e canha
Viver lá na campanha é bom demais
Que o santo missioneiro
Te acompanhe companheiro
Se puder vem lavar a alma no rio uruguai

Eu sou do sul
É só olhar pra ver que eu sou do sul
A minha terra tem um céu azul
É só olhar e ver...

Querência Amada

Ainda no clima do 20 de setembro...
Mais música gaúcha!
=D



Querência Amada

[Composição: Teixeirinha
Interpretação: Osvaldir e Carlos Magrão]

Quem quiser saber quem sou
Olha para o céu azul
E grita junto comigo
Viva o Rio Grande do Sul
O lenço me identifica
Qual a minha procedência
Da província de São Pedro
Padroeiro da querência

Oh, meu Rio Grande
De encantos mil
Disposto a tudo
Pelo Brasil
Querência amada dos parreirais
Da uva vem o vinho
Do povo vem o carinho
Bondade nunca é demais

Berço de Flores da Cunha
E de Borges de Medeiros
Terra de Getúlio Vargas
Presidente brasileiro
Eu sou da mesma vertente
Que Deus saúde me mande
Que eu possa ver muitos anos
O céu azul do Rio Grande...


Te quero tanto
Torrão gaúcho
Morrer por ti me dou o luxo
Querência amada
Planície e serra
Dos braços que me puxa
Da linda mulher gaúcha
Beleza da minha terra

Meu coração é pequeno
Porque Deus me fez assim
O Rio Grande é bem maior
Mas cabe dentro de mim
Sou da geração mais nova
Poeta bem macho e guapo
Nas minhas veias escorre
O sangue herói de farrapo

Deus é gaúcho
Da espora e mango
Foi maragato ou foi chimango
Querência amada
Meu céu de anil
Este Rio Grande gigante
Mais uma estrela brilhante
Na bandeira do Brasil

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Céu, sol, sul, terra e cor

Um pouco de músicas gaúchas para embalar o dia 20 de setembro de 2011:



Céu, sol, sul, terra e cor
[Leonardo - cantor gaúcho]

Eu quero andar nas coxilhas
Sentindo as flexilhas das ervas do chão,
Ter os pés roseteados de campo,
Ficar mais trigueiro com o sol de verão.
Fazer versos cantando as belezas
Desta natureza sem par.
E mostrar para quem quiser ver
Um lugar pra viver sem chorar
(E mostrar para quem quiser ver
Um lugar pra viver sem chorar!)

Refrão:
É o meu Rio Grande do Sul
Céu, sol, sul, terra e cor!
Onde tudo o que se planta cresce
E o que mais floresce é o amor.
É o meu Rio Grande do Sul
Céu, sol, sul, terra e cor!
Onde tudo o que se planta cresce
E o que mais floresce é o amor.
(Onde tudo o que se planta cresce
E o que mais floresce é o amor!)


Eu quero me banhar nas fontes
E olhar horizontes com Deus,
E sentir que as cantigas nativas
Continuam vivas para os filhos meus.
Ver os campos florindo e
Crianças sorrindo felizes a cantar!
E mostrar para quem quiser ver
Um lugar pra viver sem chorar
(E mostrar para quem quiser ver
Um lugar pra viver sem chorar!)

20 de setembro - Revolução Farroupilha

A seguir, um pouco sobre a história da Revolução Farroupilha:


Guilherme Litran,
Carga de cavalaria Farroupilha,
acervo do Museu Júlio de Castilhos.
Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha são os nomes pelos quais ficou conhecida a revolução ou guerra regional, de caráter republicano, contra o governo imperial do Brasil, na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e que resultou na declaração de independência da província como estado republicano, dando origem à República Rio-Grandense. Estendeu-se de 20 de setembro de 1835 a 1° de março de 1845
A revolução, de caráter separatista, influenciou movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras: irradiando influência para a Revolução Liberal que viria a ocorrer em São Paulo em 1842 e para a Revolta denominada Sabinada na Bahia em 1837, ambas de ideologia do Partido Liberal da época.
(...)
Teve como líderes: generalBento Gonçalves, general Neto, coronel Onofre Pires, coronel Lucas de Oliveira, deputado Vicente da Fontoura,Pedro Boticário, general Davi Canabarro, coronel Corte Real, coronel Teixeira Nunes, coronel Domingos de Almeida, major Vicente Ferrer de Almeida,coronel Domingos Crescêncio de Carvalho, general José Mariano de Mattos, general Gomes Jardim, além de receber inspiração ideológica de italianos da Carbonária refugiados, como o cientista e tenente Tito Lívio Zambeccari e o jornalista Luigi Rossetti, além do capitão Giuseppe Garibaldi, que embora não pertencesse a carbonária, esteve envolvido em movimentos republicanos na Itália. A questão da abolição da escravatura também esteve envolvida, organizando-se exércitos contando com homens negros que aspiravam à liberdade.

Trecho retirado do artigo sobre a Revolução Farroupilha na Wikipedia.

Viva o Rio Grande do Sul!

Hoje é 20 de setembro.
Para os gaúchos, essa é uma data muito importante e muito celebrada.
É a data da Revolução Farroupilha, iniciada no dia 20 de setembro de 1835.
Não só este dia, mas a semana em torno dele é dedicada pelos gaúchos à comemoração da história do Rio Grande do Sul.

Sendo eu uma gaúcha, sinto na pele a emoção de uma celebração que une um povo de uma maneira peculiar e pouco encontrada em outros estados do Brasil.
É um carinho, apreço e devoção pelo lugar de onde viemos, que está na cara e no coração de qualquer riograndense.
Um exemplo é uma história curta que vou contar agora.

-
Alguém uma vez me contou que estava em um evento no Rio Grande do Sul, no qual também estava um jornalista de outro estado do Brasil. Este evento começou com o hino nacional, o qual todos os presentes cantaram em pé - como de prache. Essa pessoa me contou que, quando o hino nacional acabou, este jornalista se preparou para se sentar novamente. Qual foi o seu espanto quando percebeu que ninguém mais se sentou e que, na sequência, o hino do Rio Grande do Sul começou a tocar, sendo igualmente cantado por todos do início ao fim.
Este jornalista retornou ao seu estado e, ao escrever sobre o evento, contou esse episódio e questionou seus leitores se estes sabiam cantar o hino do seu estado - pois ele próprio não sabia e não tinha visto em nenhum outro estado esta consciência.
-

O gaúcho é assim. Apaixonado pela sua terra e orgulhoso do seu povo e da sua história.
O gaúcho tem seu lado um tanto bruto, mas também trabalhador, corajoso e persistente. E tem também seu lado gentil, acolhedor e generoso.

Esta é a minha homenagem ao Rio Grande do Sul, minha terra tão amada, da qual eu sinto tanta saudade aqui nas terras paulistas...

Saudações aos gaúchos espalhados pelo Brasil e pelo mundo!



Hino Rio-grandense
Letra: Francisco Pinto da Fontoura
Composição: Joaquim José Mendanha

sábado, 17 de setembro de 2011

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Every Teardrop Is A Waterfall

Você pode até pintar o mundo de preto e branco...
Mas nunca apagará o colorido de uma alma feliz.

;)

Essa música me fez pensar nisso...
Na alegria que carrego dentro de mim, e que muitas vezes é abalada pelas contingências da vida.
Mas que sempre está ali, de uma forma ou de outra...



Every Teardrop Is A Waterfall 
[Coldplay]

I turn the music up, I got my records on
I shut the world outside until the lights come on
Maybe the streets alight, Maybe the trees are gone
I feel my heart start beating to my favourite song

And all the kids they dance, all the kids all night
Until monday mornig feels another life
I turn the music up
I'm on a roll this time
And heaven is in sight

I turn the music up, I got my records on
From underneath the rubble, sing a rebel song
Don't want to see another generation drop
I'd rather be a comma than a full stop

Maybe I'm in the black, Maybe I'm on my knees
Maybe I'm in the gap between the two trapezes
But my heart is beating and my pulses start
Cathedrals in my heart


As we saw oh this light I swear you, emerge blinking into
To tell me it's alright
As we soar walls, Every siren is a symphony
And every tear's a waterfall
Is a Waterfall
Oh
Is a Waterfall
Oh Oh Oh
Is a, Is a Waterfall
Every tear
Is a Waterfall
Oh Oh Oh

So you can hurt, hurt me bad
But still I'll raise the flag

Oh
It was a wa wa wa wa wa-aterfall
A wa wa wa wa wa-aterfall

Every tear
Every tear
Every teardrop is a Waterfall

Every tear
Every tear
Every teardrop is a Waterfall

Versos simples

Hoje escutei essa música na rádio e ela me despertou lembranças e sentimentos bons...
Decidi compartilhar.

Além da melodia suave e bonita, essa música representa muito bem os meus sentimentos agora.

Enjoy!



Versos simples
[Chimarruts]

Sabe, já faz tempo
Que eu queria te falar
Das coisas que trago no peito

Saudade, já não sei se é
A palavra certa para usar
Ainda lembro do seu jeito

Não te trago ouro
Porque ele não entra no céu
E nenhuma riqueza deste mundo

Não te trago flores
Porque elas secam e caem ao chão

Te trago os meus versos simples
Mas que fiz de coração

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Nem um dia (2)

"Um dia frio
Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo
Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide
(...)
Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você..."


Nem um dia
[Djavan]

domingo, 11 de setembro de 2011

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Intervalo feliz / Balada do louco



Balada do louco
[Rita Lee]

Dizem que sou louca
Por pensar assim
Se sou muito louca
Por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz!
E não é feliz!
Não é feliz...

Se eles são bonitos
Eu sou Sharon Stone
Se eles são famosos
I'm Rolling Stone
Mas louco é quem me diz!
E não é feliz!
Não é feliz...

Eu juro que é melhor
Não ser um normal
Se eu posso pensar
Que Deus, sou eu..

Se eles têm três carros
Eu posso voar
Se eles rezam muito
Eu sou santa!
Eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz!
E não é feliz!
Não é feliz...

Eu juro que é melhor
Não ser um normal
Se eu posso pensar
Que Deus, sou eu...

Sim! Sou muito louca
Não vou me curar
Já não sou a única
Que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz!
E não é feliz!
Eu sou feliz!...

domingo, 4 de setembro de 2011

sábado, 3 de setembro de 2011

Palavras e silêncio




Palavras e Silêncio
[Zeca Baleiro e Fagner]

Tempos modernos

"Nas sociedades pré-modernas, espaço e tempo coincidem amplamente, na medida em que as dimensões espaciais da vida social são, para a maioria da população, e para quase todos os efeitos, dominadas pela "presença" — por atividades localizadas. O advento da modernidade arranca crescentemente o espaço do tempo fomentando relações entre outros "ausentes", localmente distantes de qualquer situação dada ou interação face a face. Em condições de modernidade, o lugar se torna cada vez mais fantasmagórico: isto, os locais são completamente penetrados e moldados em termos de influências sociais bem distantes deles."

[Trecho do livro "As consequências da modernidade", de Anthony Giddens]

---
Estou lendo sobre a modernidade - e vivendo em um mundo pós-moderno, talvez.
Na verdade, é difícil caracterizar o mundo em que vivemos atualmente.
Tudo o que eu sei, é que a globalização parece ter tornado o mundo menor, uma vez que as relações não são mais limitadas pela condição da presença. E muito se pode fazer sem que se saia de casa.
O que isso quer dizer?
Não sei.
Talvez o advento da modernidade / pós-modernidade seja como uma luz que cega, pelo seu brilho intenso...
Todos ficamos maravilhados com os ditos "avanços" em muitas âmbitos da vida humana.
Mas um aspecto - para mim, muito importante - dessa vida está ficando para trás: o contato real entre as pessoas.
Numa postagem anterior, o texto falava sobre as redes sociais, que simulam uma interação... Sim, porque as pessoas passam o dia se "relacionando" com todos os seus amigos virtualmente, e isso é visto como algo bom.
Mas será mesmo que isso substitui a relação face-a-face? Isso é um progresso na nossa forma de contato humano?

Fico com Lulu Santos...

As gerações seguintes talvez se questionem mesmo sobre o "jeito que a gente arrumou pra não deixar de se amar"... e de se relacionar.

Pois meu medo é que acabemos como aquelas pessoas no filme do Wall-e, todos sentados confortavelmente em nossas cadeiras, acreditando que estamos vivendo - em uma simulação de vida, talvez.

Viver requer esforço.
Se relacionar requer sair do seu conforto e ir até as pessoas, ir ao encontro da vida.

"Dizer mais sim do que não", à vida real.


Tempos Modernos
[Lulu Santos]

Eu vejo a vida
Melhor no futuro
Eu vejo isso
Por cima de um muro
De hipocrisia
Que insiste
Em nos rodear...

Eu vejo a vida
Mais clara e farta
Repleta de toda
Satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão...

Eu quero crer
No amor numa boa
Que isso valha
Pra qualquer pessoa
Que realizar, a força
Que tem uma paixão...

Eu vejo um novo
Começo de era
De gente fina
Elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim
Do que não, não, não...

Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir...



Contatos
[Lulu Santos]

Mergulhados em um sofá
Os contatos no telão
Navegando a bolha que é estarmos juntos

Você disse tanta besteira hilária
Que encheria um gibi
Eu lhe aumentei os sustos
Já vi esse filme, mas me esqueci
Como é bom

Mesmo após um dia intenso
Não devemos desencostar
Vai que por acaso falte o equilíbrio

Imagine que no futuro as pessoas
Vão ler sobre nós
E vão se admirar do jeito que a gente arrumou
Pra não deixar de se amar
_

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Galileu Galilei


"Se raciocinar sobre um problema difícil fosse a mesma coisa que carregar pesos, então muitos cavalos carregariam mais sacos de trigo que um cavalo só, e eu concordaria mesmo que a opinião de muitos valesse mais do que a de poucos; mas o raciocinar é como o correr, e não como o carregar. Assim, um cavalo de corrida sozinho correrá sempre mais do que cem cavalos frisões"

(Galileu Galilei - O Ensaiador)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A enxurrada de enganosas grandes ideias [O Estado de São Paulo]

O texto a seguir é uma reportagem* publicada no Jornal O Estado de São Paulo, no dia 21 de agosto de 2011.
Nela, Neal Gabler fala sobre a era da informação, e como a nossa fome por ela está desestimulando a criação de verdadeiras boas ideias, uma vez que estas se construiriam através de um pensamento que transcende a informação.
Além disso, ele faz uma crítica às redes sociais, falando sobre como elas estão tornando o nosso pensamento "preguiçoso".

Para não virar spoiler, paro por aqui.
A reportagem é longa, mas vale a pena gastar esse tempo com ela.

Boa leitura!


---

A enxurrada de enganosas grandes ideias

No mundo pós-ideia, recebemos trilhões de dados, muitas vezes insignificantes, sem parar para pensar

21 de agosto de 2011 | 0h 00

Neal Gabler, do The New York Times - O Estado de S.Paulo

O número de julho/agosto de The Atlantic alardeia as "14 Maiores Ideias do Ano". Prenda o fôlego. As ideias incluem "Os jogadores são os donos do jogo" (n.º 12), "Wall Street: a mesma de sempre" (n.º 6), "Nada permanece secreto!" (n.º 2), e a maior de todas do ano, "A ascensão da classe média - só que não a nossa", que se refere às economias em crescimento de Brasil, Rússia, Índia e China. Pode soltar o ar. O leitor deve achar que nenhuma dessas ideias parece particularmente de tirar o fôlego. Nenhuma delas, aliás, é uma ideia.

Elas são mais observações. Mas não se deve culpar The Atlantic por confundir lugares comuns com visão intelectual. As ideias simplesmente não são o que costumavam ser. Em um passado distante, elas podiam acender debates, estimular outros pensamentos, incitar revoluções e mudar fundamentalmente as maneiras como observamos e pensamos o mundo.

Elas podiam penetrar na cultura geral e transformar pensadores em celebridades - notadamente Albert Einstein, mas também Reinhold Niebuhr, Daniel Bell, Betty Friedan, Carl Sagan e Stephen Jay Gould, para citar alguns. As próprias ideias podiam se tornar famosas: por exemplo, "o fim da ideologia", "o meio é a mensagem", "a mística feminina", "a teoria do Big Bang", "o fim da história". A grande ideia podia ganhar a capa da revista Time - "Deus está morto?" - e intelectuais como Norman Mailer, William F. Buckley Jr. e Gore Vidal seriam eventualmente convidados para as poltronas dos talk shows de fim de noite. Isso foi há uma eternidade.

Se nossas ideias parecem menores hoje, não é porque somos mais burros do que nossos antepassados, mas simplesmente porque não ligamos tanto para as ideias quanto eles ligavam. Aliás, estamos vivendo cada vez mais em um mundo pós-ideia - um mundo em que as ideias grandes, as que fazem pensar, que não podem ser instantaneamente monetizadas, têm tão pouco valor intrínseco que menos pessoas as estão gerando e menos canais as estão disseminando, a despeito da internet. As ideias ousadas estão praticamente fora de moda.

Argumento lógico. Não é segredo, especialmente nos Estados Unidos, que vivemos numa era pós-Iluminismo na qual racionalidade, ciência, argumento lógico e debate perderam a batalha em muitos setores e, talvez, até na sociedade em geral, para superstição, fé, opinião e ortodoxia. Embora continuemos fazendo avanços tecnológicos gigantescos, podemos estar na primeira geração que girou para trás o relógio da história - que retrocedeu intelectualmente de modos avançados de pensar para os velhos modos das crenças. Mas pós-Iluminismo e pós-ideia, embora relacionados, não são exatamente a mesma coisa.

Pós-Iluminismo refere-se a um estilo de pensar que já não mobiliza as técnicas do pensamento racional. Pós-ideia refere-se ao pensar que não é mais feito, independentemente do estilo.

O mundo pós-ideia vem se aproximando faz tempo, e muitos fatores contribuíram para isso. Vemos o recuo nas universidades do mundo real, e um encorajamento, e premiação, da especialização mais estreita em lugar da ousadia - de cuidar de plantas envasadas em vez de plantar florestas.

Vemos o eclipse do intelectual público na mídia em geral pelo sabichão que substitui extravagâncias por ponderação, e o concomitante declínio do ensaio em revistas de interesse geral. E temos a ascensão de uma cultura cada vez mais visual, especialmente entre os jovens - uma forma menos favorável à expressão de ideias.

Mas esses fatores, que começaram há décadas, foram mais provavelmente arautos do advento de um mundo pós-ideia que suas causas principais.

Vivemos na muito alardeada Era da Informação. Por cortesia da internet, temos a impressão de ter acesso imediato a tudo que alguém poderia querer saber. Certamente somos mais bem informados em história, ao menos quantitativamente. Há trilhões e trilhões de bytes circulando no éter - tudo para ser colhido e ser objeto de pensamento.

E é precisamente essa a questão. No passado, nós colhíamos informações não só para saber coisas. Isso era apenas o começo. Nós também colhíamos informações para convertê-las em alguma coisa maior que fatos e, em última análise, mais útil - em ideias que explicavam as informações. Buscávamos não só apreender o mundo, mas realmente compreendê-lo, que é a função primordial das ideias. Grandes ideias explicam o mundo e nos explicam uns aos outros.

Karl Marx chamou a atenção para a relação entre os meios de produção e nossos sistemas sociais e políticos. Sigmund Freud nos ensinou a explorar nossas mentes como meio para compreender nossas emoções e comportamentos. Einstein reescreveu a física. Mais recentemente, Marshall McLuhan teorizou sobre a natureza da comunicação moderna e seu efeito na vida moderna. Essas ideias permitiram que nos desprendêssemos de nossa existência e tentássemos responder as grandes e atemorizantes questões de nossas vidas.

Mas se a informação foi um dia um alimento de ideias, na última década ela se tornou sua concorrente. Estamos como o agricultor que possui trigo demais para fabricar farinha. Somos inundados por tanta informação que não teríamos tempo para processá-la mesmo que o quiséssemos, e a maioria de nós não quer.

A coleta em si é cansativa: o que cada um de nossos amigos está fazendo neste particular momento, e no momento seguinte, e no seguinte; com quem Jennifer Aniston está saindo agora; qual video se tornará viral no YouTube neste momento; o que a princesa Letizia ou Kate Middleton estão usando hoje. Aliás, estamos vivendo dentro da nuvem de uma Lei de Gresham informática onde informações triviais expulsam informações significativas, mas trata-se também uma lei de Gresham nocional em que as informações, triviais ou não, expulsam ideias.

Preferimos conhecer a pensar porque o conhecer tem mais valor imediato.

Ele nos mantém "por dentro", nos mantém conectados com nossos amigos e nossa tribo. As ideias são tão etéreas, tão pouco práticas, trabalho demais para recompensa de menos. Poucos falam ideias. Todos falam informação, geralmente informação pessoal. Onde é que você vai? O que está fazendo? Quem você anda vendo? Estas são as grandes questões de hoje.

Não é por acaso, com certeza, que o mundo pós-ideia brotou com o mundo das redes de relacionamento social. Apesar de haver sites e blogs dedicados a ideias, Twitter, Facebook, Myspace, etc ., os sites mais populares na web, são basicamente bolsas de informações destinadas a alimentar a fome insaciável de informação, embora essa dificilmente seja do tipo de informação que gera ideias. Ela é, em grande parte, inútil exceto na medida em que faz o possuidor da informação se sentir, bem... informado. Evidentemente, pode-se argumentar que esses sites não são diferentes do que a conversa era para gerações anteriores, e a conversa raramente criava grandes ideias, e se estaria certo.

Mas a analogia não é perfeita. Em primeiro lugar, os sites de relacionamento social são a principal forma de comunicação entre jovens, e estão suplantando os meios impressos, que é onde as ideias eram tipicamente gestadas. Depois, os sites de relacionamento social criam hábitos mentais que são inimigos do tipo de discurso deliberado que dá origem a ideias. Em lugar de teorias, hipóteses e argumentos importantes, obtemos tuítes instantâneos de 140 caracteres sobre comer um sanduíche ou assistir um programa de TV.

Universo intelectual. Embora as redes sociais possam alargar o círculo pessoal de alguém e até apresentá-lo a estranhos, isso não é mesma coisa que alargar o universo intelectual pessoal. Aliás, a tagarelice das redes sociais tende a encolher o universo da pessoa a ela mesma e seus amigos, enquanto pensamentos organizados em palavras, seja online seja na página impressa, alargam o foco pessoal.

Parafraseando o ditado famoso, geralmente atribuído ao jogador de beisebol americano "Yogi" Berra, de que não dá para pensar e rebater ao mesmo tempo, também não se pode pensar e tuitar ao mesmo tempo, não por ser impossível fazer tarefas múltiplas, mas porque tuitar - que é, em grande parte, um jorro, ou de opiniões breves sem sustentação, ou de descrições breves das próprias atividades prosaicas - é uma forma de distração e anti-pensamento.

As implicações para uma sociedade que não pensa grande são enormes. As ideias não são meros brinquedos intelectuais. Elas têm consequências práticas.

Um artista amigo lamentou recentemente que sentia o mundo da arte à deriva, pois não havia mais grandes críticos como Harold Rosenberg e Clement Greenberg para oferecer teorias da arte que poderiam fazer a arte frutificar e se revigorar. Outro amigo desenvolveu um argumento parecido sobre política. Embora os partidos debatam sobre quanto cortar no orçamento, ele gostaria de saber onde estão os John Rawises e Robert Nozicks que poderiam elevar o nível de nossa política.

Abundância de dados. O mesmo seguramente poderia ser dito da economia, onde John Maynard Keynes continua sendo o centro do debate quase 80 anos depois de propor sua teoria de injeção de estímulos pelo governo. Isso não significa que os sucessores de Rosenberg, Rawls e Keynes não existam, apenas que, se existirem, eles provavelmente não ganharão tração numa cultura que tem tão pouco uso para ideias, especialmente as grandes, excitantes e perigosas, e isso é verdade quer as ideias venham de acadêmicos ou de outros que não fazem parte de organizações de elite e desafiam a sabedoria convencional. Todos os pensadores são vítimas da abundância de informação, e as ideias dos pensadores de hoje também são vítimas dessa abundância.

Mas é especialmente verdade para grandes pensadores nas ciências sociais como o psicólogo cognitivo Steven Pinker, que teorizou sobre tudo - da origem da linguagem ao papel da genética na natureza humana -, ou o biólogo Richard Dawkins, que teve ideias grandes e controvertidas sobre tudo - do egoísmo a Deus -, ou o psicólogo Jonathan Haidt, que analisou sistemas morais diferentes e extraiu conclusões fascinantes sobre a relação - de moralidade a crenças políticas.

Mas como eles são cientistas e empíricos e não generalistas nas humanidades, o lugar a partir do qual as ideias eram costumeiramente popularizadas, eles sofrem um duplo golpe: não só o golpe contra as ideias em geral, mas o golpe contra a ciência, que é tipicamente considerada na mídia, na melhor hipótese, como mistificadora, na pior, como incompreensível. Uma geração atrás, esses homens teriam chegado a revistas populares e às telas da televisão. Agora, eles são expelidos pelo eflúvio informacional.

Alguém certamente dirá que as grandes ideias migraram para o mercado, mas há uma enorme diferença entre invenções com fins lucrativos e pensamentos intelectualmente desafiadores. Empresários têm muitas ideias, e alguns, como Steve Jobs, da Apple, trouxeram algumas ideias brilhantes no sentido "inovador" da palavra.

Mas, embora essas ideias possam mudar a maneira como vivemos, elas raramente transformam a maneira como pensamos. Elas são materiais, não nocionais. São os pensadores que estão em falta, e a situação provavelmente não vai mudar tão cedo.

Nós nos tornamos narcisistas da informação, tão desinteressados por qualquer coisa fora de nós e de nossos círculos de amizade ou por qualquer petisco que não possamos partilhar com esses amigos que se um Marx ou um Nietzsche surgisse subitamente trombeteando suas ideias, ninguém lhe daria a menor atenção, certamente não a mídia em geral, que aprendeu a servir ao nosso narcisismo.

O que o futuro pressagia é cada vez mais informação - Everests dela. Não haverá nada que não conheçamos. Mas não haverá ninguém pensando nisso. Pense nisso. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK

É BOLSISTA SÊNIOR NO ANNENBERG NORMAN LEAR CENTER DA UNIVERSIDADE DO SUL DA CALIFÓRNIA E AUTOR DE "WALT DISNEY: THE TRIUMPH OF THE AMERICAN IMAGINATION"

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Só de Sacanagem

"Meu coração está aos pulos!

Quantas vezes minha esperança será posta à prova?

Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.

Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?

Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?

É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.

Até hábeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.

Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."

Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.

Eu repito, ouviram? Imortal! SEI QUE NÃO DÁ PARA MUDAR O COMEÇO MAS, SE A GENTE QUISER, VAI DAR PARA MUDAR O FINAL!"

[Elisa Lucinda]

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