E na situação em que me encontro, longe do lugar onde nasci e cresci, e onde fiz algumas amizades ao longo dos diferentes períodos da minha vida, e agora tendo que enfrentar a tarefa de fazer novos amigos, fico a pensar...
Eu tenho muita sorte.
Demorou um tempo na minha vida, até que eu conseguisse sentir que tinha um lugar no mundo. E a primeira vez que pude ter essa sensação, foi quando comecei a ter amigas. Como já disse, cada época da minha vida me presenteou com uma amizade diferente...
A Karol, que conheci logo no início da vida, mas que o destino separou e juntou novamente na adolescência... e morando do outro lado da rua. Quanta história pra contar, que começa com nossos pais!
A Fê S., que fez do ensino fundamental algo muito melhor do que poderia ser... numa época em que ainda brincávamos de boneca... compartilhei com ela os meus primeiros anos de "nerdice"...
A Cibe, que começou sendo uma "amizade de verão", virou vários verões... e hoje, permanece através das estações... quantas idas ao Clube Dores... e muita história pra contar também. Admiro imensamente a alegria inabalável com que ela enfrenta a vida...
A Naty, com quem eu convivi diariamente por um tempo curto demais... Mas que ficou no coração. Nos vimos muito pouco desde que saiu do colégio onde estudávamos, mas isso não interferiu na amizade... Ela foi a que mais vezes me disse que eu tinha que ser Psicóloga... E não é que me tornei uma mesmo!
A Laly, que tornou a época do ensino médio infinitamente mais suportável... Viemos de mundos muito diferentes, mas nos encontramos na intersecção da vontade de tirar sarro do sistema maluco em que estávamos vivendo. Muitas risadas fazendo piada de um mundo que tentava fazer piada da gente...
A Mari, presente que encontrei nas andanças do trabalho em Psicologia Social... Uma conexão que surgiu e cresceu no coração, com uma naturalidade que pouco se vê por aí... Precisou muito pouco pra vermos uma amizade tão grande se criar. Quantos almoços terapêuticos, que só posso descrever como "bons encontros".
E a Marcia e a Tici... Amizade que se criou e permaneceu depois daquela época mágica e turbulenta da faculdade. Formamos uma segunda família, que levo no coração sempre, com um carinho que não tem medida...
Cada uma delas têm suas peculiaridades, suas idiossincrasias, mas todas elas têm em comum algo que eu admiro muito... bondade na alma, caráter, integridade... e são amigas com quem eu sei que posso contar pra chorar as mágoas, mas também pra fazer piada da vida - o que eu, particularmente, adoro... E sei que posso contar com elas, mesmo com toda essa distância que nos separa agora.
A Tici, aniversariante em questão, é assim... Talvez ela seja a amiga mais diferente de mim, em alguns aspectos... Afinal, ela tem uma contenção em se expressar, fazendo de suas palavras sempre algo muito pensado, e sendo assim, sempre muito valioso... ao contrário de mim, que sou praticamente verborrágica!! Mas mesmo assim, temos um vínculo muito forte, no qual a distância não faz nem cócegas... (ainda bem!)
Fiquei pensando que amizade, pra mim, é isso... É a diferença junto com a semelhança. É uma cumplicidade que está acima da distância e do tempo. É o respeito. É poder se divertir e poder confidenciar os desgostos da vida. É se orgulhar e se alegrar das conquistas um do outro, comemorar junto, como se fosse uma vitória sua também. E é também criticar, pois a amizade deve suportar quando o outro sinaliza algo errado. Afinal... Amigos querem o bem um do outro. Sempre...
Tici, parabéns mais uma vez pelo seu aniversário. Desejo, do fundo do coração que você seja muito feliz...
E obrigada pela sua amizade. Ela é um dos melhores presentes que a vida me deu...
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Loucos e Santos
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
[Oscar Wilde]
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